Quem é o Autor do Livro de Hebreus?
O livro de Hebreus é um dos mais misteriosos e fascinantes da Bíblia. Ele contém ensinamentos profundos sobre a superioridade de Cristo, o sacerdócio, a fé e a esperança. Mas quem escreveu esse livro?
Essa é uma pergunta que tem intrigado estudiosos, teólogos e leitores há séculos. Neste artigo, vamos explorar algumas possíveis respostas, analisando o contexto histórico, geográfico, linguístico e teológico do livro de Hebreus.
Contexto histórico
O livro de Hebreus não traz nenhuma indicação explícita de quem é o seu autor, nem de quando ou onde foi escrito. Por isso, precisamos recorrer a outras fontes para tentar reconstruir o cenário em que o livro foi produzido. Uma dessas fontes é a tradição cristã, que desde os primeiros séculos atribuiu a autoria do livro ao apóstolo Paulo. Essa opinião foi defendida por pais da igreja como Clemente de Alexandria, Orígenes, Eusébio e Agostinho. No entanto, essa atribuição não é unânime, nem isenta de problemas. Há vários argumentos que pesam contra a autoria paulina do livro de Hebreus, como veremos a seguir.
Em primeiro lugar
o estilo literário do livro de Hebreus é muito diferente do estilo dos demais escritos de Paulo. Enquanto Paulo usa uma linguagem mais coloquial, argumentativa e emocional, o autor de Hebreus usa uma linguagem mais formal, elaborada e sofisticada. O livro de Hebreus é considerado um dos mais belos e eruditos do Novo Testamento, demonstrando um domínio da língua grega e da retórica clássica. Além disso, o autor de Hebreus cita o Antigo Testamento a partir da versão grega conhecida como Septuaginta, enquanto Paulo cita tanto a versão grega quanto a versão hebraica.
Em segundo lugar
o conteúdo teológico do livro de Hebreus também apresenta algumas diferenças em relação ao pensamento de Paulo. Por exemplo, o autor de Hebreus enfatiza muito a ideia de que Cristo é o sumo sacerdote que ofereceu a si mesmo como sacrifício perfeito e definitivo pelos pecados da humanidade (Hebreus 7:26-28; 9:11-14; 10:11-14).
Essa imagem sacerdotal não é tão desenvolvida nos escritos de Paulo, que preferem destacar a obra de Cristo como profeta, rei e senhor (Romanos 1:3-4; 1 Coríntios 15:24-28; Filipenses 2:5-11). Outro exemplo é a forma como o autor de Hebreus trata da questão da apostasia, ou seja, do abandono da fé por parte dos cristãos. Ele adverte severamente os seus leitores sobre o perigo de se afastarem de Deus e perderem a salvação (Hebreus 2:1-4; 3:7-19; 6:4-8; 10:26-31; 12:25-29). Essa perspectiva parece contrastar com a doutrina paulina da justificação pela fé e da segurança da salvação (Romanos 3:21-26; 5:1-11; 8:28-39; Efésios 2:8-10).
Em terceiro lugar
o propósito e o público do livro de Hebreus também sugerem uma distinção entre o seu autor e Paulo. O livro de Hebreus tem a forma de uma carta, mas também de um sermão ou tratado teológico. O autor se dirige aos seus leitores como “irmãos” (Hebreus 3:1; 10:19; 13:22), mas também como “amados” (Hebreus 6:9) e “santos” (Hebreus 13:24). Ele demonstra conhecer bem os seus destinatários, pois menciona alguns nomes (Hebreus 13:23), elogia a sua fé e generosidade (Hebreus 6:10; 10:32-34), e pede as suas orações (Hebreus 13:18-19).
No entanto, ele não se identifica pelo nome, nem envia saudações de outras pessoas, como é comum nas cartas de Paulo. Além disso, ele se refere aos seus leitores como “hebreus” (Hebreus 1:1; 3:1; 4:14), indicando que eles eram judeus convertidos ao cristianismo. O autor busca encorajá-los a perseverar na fé, diante das dificuldades e perseguições que enfrentavam, e a não voltar ao judaísmo, mostrando-lhes a superioridade de Cristo sobre os profetas, os anjos, Moisés, Josué, Arão e os sacrifícios do Antigo Testamento. Essa situação parece diferente daquela vivida por Paulo, que se dirigia principalmente aos gentios convertidos ao cristianismo, e que enfrentava a oposição dos judeus que queriam impor a lei mosaica aos cristãos (Atos 15:1-35; Gálatas 2:11-21; 5:1-12).
Diante desses argumentos, muitos estudiosos rejeitam a autoria paulina do livro de Hebreus, e propõem outras alternativas.
Algumas das possibilidades mais cogitadas são:
– Barnabé
Ele era um levita, portanto familiarizado com o sistema sacerdotal do Antigo Testamento. Portanto ele era um companheiro de Paulo em sua primeira viagem missionária, e depois se separou dele por causa de uma divergência sobre João Marcos (Atos 13:1-13; 15:36-41). além disso ele era conhecido como um homem bom, cheio do Espírito Santo e de fé (Atos 11:22-24). Ele foi o primeiro a defender a conversão dos gentios (Atos 11:19-21; 15:12). Por fim ele foi mencionado por Clemente de Alexandria como o autor do livro de Hebreus.
– Apolo
Ele era um judeu natural de Alexandria, uma cidade famosa pela sua cultura e educação. Ademais ele era eloquente, versado nas Escrituras e fervoroso no espírito (Atos 18:24-28). Ele foi instruído por Priscila e Áquila sobre o evangelho de Cristo. Além disso ele pregava com poder e refutava os judeus que negavam a Jesus. Ele era estimado por Paulo, que o considerava um colaborador (1 Coríntios 3:4-9; 16:12; Tito 3:13). Ele foi sugerido por Lutero como o autor do livro de Hebreus.
– Lucas
Ele era um médico amado, companheiro fiel de Paulo em suas viagens e prisões (Colossenses 4:14; 2 Timóteo 4:11; Filemom 24). Além disso ele era o autor do evangelho que leva o seu nome e do livro de Atos dos Apóstolos. Ele tinha um excelente domínio da língua grega e um interesse pela história. Ele era gentio, mas conhecia bem a cultura judaica. Enfim, ele foi proposto por Calvino como o autor do livro de Hebreus.
– Priscila
Ela era uma mulher judia convertida ao cristianismo, casada com Áquila. Entretanto ela era uma colaboradora de Paulo, hospedando-o em sua casa em Corinto e Éfeso (Atos 18:1-3; 18-19; Romanos 16:3-5; 1 Coríntios 16:19). além disso ela era uma mestra da palavra de Deus, instruindo Apolo sobre o evangelho de Cristo (Atos 18:24-28). Ela foi indicada por Harnack como a autora do livro de Hebreus.
Essas são apenas algumas das hipóteses levantadas pelos estudiosos sobre a autoria do livro de Hebreus. No entanto, nenhuma delas tem evidências conclusivas ou consenso entre os especialistas. Talvez nunca saibamos com certeza quem escreveu esse livro. Mas isso não diminui a sua importância ou autoridade. O que importa é que o livro de Hebreus é inspirado por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a educação na justiça (2 Timóteo 3:16).
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